Título
450 Rio
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Descrição crítica
[por Rejane Rocha] A obra em HTML, produzida por André Vallias e publicada na Revista Errática, se dispõe como uma tela azul escuro que serve de fundo para uma palavra estática e para uma imagem minimalista que remete às ondas do mar ou a uma topografia acidentada. A cada acesso, o leitor se depara com uma palavra estática diferente na tela, todas sempre finalizadas com o sufixo RIO (por exemplo: “beneficiário”, “atuário”, “sacrário”), o que ajuda a explicar o título da obra: 450 palavras com RIO; a imagem e a cor de fundo também entram na composição do sentido do título e dão algumas pistas possíveis: 450 maneiras de se referir ao Rio de Janeiro? 450 possíveis brevíssimas descrições do Rio de Janeiro?
A estaticidade da obra se mantém até que o leitor clique sobre a tela azul. Ao fazer isso, a palavra estática, exibida inicialmente, segue sendo substituída, vertiginosa e incessantemente (o movimento só cessa se o cursor repousar sobre a tela) por outras palavras, em um ritmo que inviabiliza a leitura e que mantém apenas o sufixo inalterado. Com o clique na tela também se coloca em movimento a imagem que parece, agora com mais clareza, representar ondas, e se inicia a reprodução de uma música que, em modo acelerado, com certo esforço se pode reconhecer como um samba.
A obra coloca em xeque a própria legibilidade quando, ao mesmo tempo, tira do leitor lhee confere poder sobre o seu ritmo de exibição e, assim, de leitura. Depende de esforço extranoemático (Aarseth) a possibilidade de leitura da obra, ou seja, às ações que trivialmente se relacionam com os protocolos de leitura de materiais impressos (mover os olhos, passar as páginas, acionar a intelecção para apreender os sentidos do texto) somam-se outras ações necessárias ou são, por estas, substituídas: mover o mouse para acionar ou deter o ritmo de exibição das palavras, (tentar) ler ao som frenético de um samba acelerado com um fundo de tela que também se movimenta, tudo ao mesmo tempo.
Enquanto a leitura do texto impresso é realizada, convencionalmente, de modo linear, a partir de uma disposição textual que, também convencionalmente, se realiza linearmente, o que se exige do leitor de 450RIO é um outro movimento, capaz de apreender, no processo de intelecção, os significados que se constroem não apenas pela sucessão linear de letras, palavras e elementos sintáticos, mas também pelo aparecimento-desaparecimento frenético de palavras na tela, que se dá com uma sonoridade específica ao fundo. E quais sentidos seriam esses?
O Rio de Janeiro talvez seja a cidade brasileira em que as desigualdades sociais mais se revelam explicitamente. Isso porque a sua geografia mais revela do que escamoteia - como ocorre em muitas outras grandes metrópoles - as profundas desigualdades sociais que a constituem: em um mesmo golpe de vista estão a riqueza e a miséria compondo a beleza de uma das paisagens naturais mais bonitas do mundo. Mar, prédios, vegetação, montanha, barracos, céu convivem em uma complexa teia de sentidos que caracteriza a experiência urbana na cidade e isso tudo pode ser captado ao mesmo tempo pelo olhar de quem estiver disposto a…olhar. A obra parece construir esse sentido de simultaneidade ao fazer com que as palavras se substituam em um ritmo tão acelerado que elas parecem se sobrepor.
Tal complexidade urbana também gera uma complexidade cultural que parece ter motivado a obra em sua primeira formalização material: uma instalação sonoro-visual concebida uma mostra de arte e tecnologia, realizada no Espaço Coppe/UFRJ em 2015, como homenagem aos 450 anos da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, dispunha-se como uma tela de grandes proporções, com a qual o espectador interagia a partir de amplos movimentos dos braços e recebia o nome de PALAVRIO.
Publicada por
Propriedade intelectual
Acessibilidade
Disponibilidade
Dispositivos para acesso
Tipo de publicação (mídia)
Gênero
Técnicas de composição (Poética)
Interatividade (além de ativar/desativar/navegar) | Multimodalidade
Procedimentos de leitura/interação
Programa/linguagem usado pelo autor
Requisitos técnicos
Sistema
Informação biográfica do autor principal (máx. 200 palavras)
André Vallias (São Paulo, São Paulo, 1963). Poeta visual, designer gráfico e produtor de mídia interativa. Forma-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Começa a dedicar-se à poesia visual em 1985, sob a influência de Augusto de Campos e Omar Guedes. De 1987 a 1994, reside na Alemanha, onde inicia atividades sobre mídia digital. Em 1990, atua como co-curador da exposição Transfutur - poesia visual da União Soviética, Brasil e Países de língua alemã, em Kassel, Alemanha, e Berlim. Em 1992, organiza a mostra internacional de poesia feita em computador p0es1e-digitale dichtkunst, em Annaberg-Buchholz, na Alemanha. Em 1994, volta a residir Brasil, no Rio de Janeiro, e dirige a produtora de mídia interativa Refazenda. Tem textos publicados em diversas antologias, entre as quais destacam-se: Media Poetry: an International Anthology (1996) e Céu Acima: Para um tombeau de Haroldo de Campos (2005), bem como revistas brasileiras e estrangeiras: Piauí, Artéria, Et Cetera, Cacto, Roda, Cortex, Alire, Visible Language e High Quality. Traduz e analisa a obra do poeta alemão Heinrich Heine (1797-1856), na obra Heine Hein? Poeta dos Contrários, publicada em 2011. Ao lado do escritor Eucaraã Ferraz, edita atualmente a revista on-line Errática. (ANDRÉ Vallias. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: . Acesso em: 24 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia).
A obra é resultado de transcodificação?
Não
Número de registro
rdlb0030