A consolidação da cultura digital convergiu ao seu meio as precedentes formas de comunicação e arte. Inscrita num suporte diverso do livro, a literatura já não é a mesma, encontrando novas formas para se expressar. Sendo a hipertextualidade a principal característica desse novo meio, o leitor ganha um novo papel, invocado também a encenar a narrativa. Suas ações, singularizando seu percurso de leitura, rompem com a uniformidade do texto, implicando numa nova relação com este. Nossa hipótese é a de que a “constelação de traços” identificados por Reinaldo Laddaga como concernentes à literatura – “alta densidade semântica, grande complexidade formal, capacidade interruptiva, potência reveladora ou crítica” – encontra-se, na literatura digital, sob uma nova poética. Com o objetivo de testar essa hipótese, selecionamos então três objetos pertencentes à literatura digital brasileira – As doze cores do vermelho, De onde vieram os homens com quem dormi, OWNED – Um novo jogador -, buscando compreender as singularidades desses objetos nos usos diversos do hipertexto e em como desenvolvem os traços característicos do que é reconhecido como literário por meio de outros parâmetros. Para isso, confrontaremos esses traços com as balizas oferecidas por Janet Murray – “imersãoPor João Roberto Antunes A imersão está totalmente relacionada a duas das características que, segundo Janet Murray (2003), são definidoras dos meios digitais: a sua espacialidade e o seu teor en...”, “agência” e “transformação” –, e faremos usos dos conceitos trazidos por Espen J. Aarseth em suas respectivas reflexões sobre a arte e a literatura no meio digital.