Transmidialidade|narrativa transmídia

Por João Roberto Antunes

A transmidialidade está intimamente relacionada ao fenômeno de convergência das mídias, que, por sua vez, intensificou-se com a ascensão da chamada era digital. A narrativa transmídia ou ficção transmidiática, enquanto ramo da transmidialidade, segue esse mesmo percurso. Enquanto conceito, a ficção transmidiática é muito bem definida por Christy Dena (2015, p. 486), que afirma que esse termo designa um mundo ficcional que existe em diferentes mídias e formas de arte. Assim, um determinado universo de ficção pode ser expandido por meio de histórias e jogos, sendo que essa expansão pode se dar por meio de mídias digitais e não digitais, com características variáveis identificadas.

A transmidialidade está intimamente relacionada ao fenômeno de convergência das mídias, que, por sua vez, intensificou-se com a ascensão da chamada era digital. A narrativa transmídia ou ficção transmidiática, enquanto ramo da transmidialidade, segue esse mesmo percurso. Enquanto conceito, a ficção transmidiática é muito bem definida por Christy Dena (2015, p. 486), que afirma que esse termo designa um mundo ficcional que existe em diferentes mídias e formas de arte. Assim, um determinado universo de ficção pode ser expandido por meio de histórias e jogos, sendo que essa expansão pode se dar por meio de mídias digitais e não digitais, com características variáveis identificadas.

Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009, p. 29).

Na realidade, foi com o advento da era digital que o processo de convergência das mídias se intensificou e ganhou relevância, dando a sua contribuição para aquilo que se tem denominado como cultura da convergência.

Nesse sentido,

O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias. (JENKINS, 2009, p. 41-42).

Quando vistas sob uma ótica tecnológica totalmente avassaladora, a impressão que se tem é a de que as velhas mídias estão fadadas a caírem no esquecimento ou, até mesmo, de que, com o passar do tempo, se desintegrarão por completo. Entretanto, “Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas.” (JENKINS, 2009, p. 32-33).

Com isso, o autor demonstra que as novas mídias não se impõem sobre as de outrora, mas se instauram em convivência harmoniosa com elas, contribuindo de modo significativo para a criação de novos tipos de narrativa, como, por exemplo, para a consolidação do gênero que se convencionou chamar de narrativa transmídia.

The term transmedial fiction names a fictional world that exists across distinct media and art forms. A fictional world can be expanded across stories and games and is often expanded across both digital and nondigital media. This phenomenon has been observed by media, narrative, game, and art theorists alike, with varying characteristics identified. (DENA, 2015, p. 486).

A narrativa transmídia é desenvolvida em uma plataforma principal e em outras secundárias que, juntas, provocam uma imersão mais profunda do leitor/espectador na história e incentivam a interação. Entretanto, se o público não tiver contato com outros meios, não haverá perdas significativas de conteúdo e nem perdas na recepção da narrativa. (NUNES, 2012, p. 76).

Em conformidade com as teorizações propostas por Jenkins (2009, p. 145), o conceito de narrativa transmídia passou a ser discutido pela primeira vez em 1999, após o lançamento do filme A Bruxa de Blair, considerado um fenômeno à época. Na mesma esteira reflexiva, o teórico também retrata a importância de Matrix para a compreensão do funcionamento da narrativa transmídia.

No afã de tecer conjecturas e elucubrações, ele chega, enfim, à conclusão de que, por trás das narrativas transmídia, existe um grande interesse econômico envolvido: Matrix, por exemplo, só fez tanto sucesso em virtude dos investimentos de seus produtores na circulação transmidiática dos conteúdos criados.

Para que isso fique mais evidente, tornando o cenário um pouco mais tangível, basta que os horizontes sejam vertidos para algumas novelas da Rede Globo, emissora de televisão brasileira que tem, desde 2007, apostado em extensões narrativas transmidiáticas para suas criações. Cheias de Charme, por exemplo, novela exibida em 2012, foi uma das iniciativas mais audazes da emissora e propiciou o mergulho dos telespectadores/interatores em experiências transmidiáticas exitosas:

O ponto que nos volta o olhar vai além da novela circular num ambiente tão cibercultural, se fixando no fato do vazamento do videoclipe Vida de Empreguete – peça essencial para a narrativa – ter acontecido simultaneamente na internet, único lugar por onde circulou por cerca de uma semana. Mesmo tendo voltado na íntegra à narrativa na televisão após vinculação exclusiva na rede, a dispersão de informação de um objeto narrativo e a tentativa de mantimento dos usuários ligados em outras ações no ciberespaço após este ato, nos parece levantar novamente questões sobre a transmidiação na telenovela. (MASCARENHAS; TAVARES, 2012, p. 2).

De acordo com Mascarenhas e Tavares (2012), essa tendência nas telenovelas da Rede Globo tem se mostrado proeminente há muito tempo, mais especificamente desde 2007, como já mencionado. Aquilo que as autoras entendem por narrativa transmídia se coaduna muito bem com as discussões e definições que estão sendo mobilizadas aqui: “[…] a narrativa transmidiática preza pela estruturação sequencial de eventos dispersos que falamos, mas que se constituem como uma única história contada em plataformas com diferentes funções e com profundidade para a atuação dos então interatores (POSHAR, MASCARENHAS, NICOLAU, 2011).” (MASCARENHAS; TAVARES, 2012, p. 6).

Nesse sentido, pode-se afirmar que a temporada de 2006-2007 de Malhação, por exemplo, que contou com um blog para uma das personagens da série, ampliando os temas abordados na ficção, se valeu do conceito de transmídia para tal empreitada.

Mas a transmídia se limita somente à televisão e ao cinema? Ou também apresenta algumas tendências em obras literárias? A resposta é sim. Conforme cita Nunes (2012), apesar de relativamente recente e pouco usual, o fenômeno transmidiático também se encontra presente em algumas obras literárias. É que criações transmidiáticas precisam sempre de uma plataforma-mãe (NUNES, 2012) para circularem, e o fato é que, ao que parece, existem poucas criações cuja plataforma-mãe é o livro (ou obras digitais, no caso da literatura digital).

Referências bibliográficas

ANTONACCI, Andréa; BACCEGA, Maria Aparecida. Cheias de charme: um estudo sobre transmidialidade e produção de interatores à luz da narrativa televisiva. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 35, 2012, Fortaleza. Anal. Fortaleza, 2012. p. 1-15. Disponível em: http://www.intercom.org.br/sis/2012/resumos/R7-2363-1.pdf. Acesso em: 28 mar. 2021.

DENA, Christy. Transmedial Fiction. In: RYAN, Marie-Laure; EMERSON, Lori; ROBERTSON, Benjamin J. (ed.). The Johns Hopkins Guide To Digital Media. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2014. p. 258-265.