Com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação, o mundo tem se transformado e a cultura, adquirido diversas nuances. A respeito das produções literárias no meio digital, muito se especula sobre o possível desaparecimento do livro, bem como sobre as implicações advindas a partir desse novo suporte. Frente às novas possibilidades de se produzir literatura na contemporaneidade, o presente trabalho tem como objetivo mapear o processo de construção do romance Os Anjos de Badaró, do autor Mario Prata, produzido inteiramente online e ao vivo nos anos 2000. Para essa análise, as contribuições acerca da Literatura Digital propostas por Gaínza (2016), as questões explanadas por Canclini (2016a, 2016b) sobre as produções artísticas na contemporaneidade e, também, as ideias de Nunberg (1993) sobre o contexto de circulação das textualidades na era digital serão de suma importância para perscrutar os novos formatos da criação literária. A fim de refletir sobre autor/autoria e, também, sobre as (co)relações traçadas entre o autor e seu entorno, as proposições desenvolvidas por Barthes (2004), Foucault (2009), Groys (2008), Chartier (2014), Azevedo (2018) e, sobretudo, a teoria do crítico israelense Even-Zohar (2013) irão oferecer o aporte teórico necessário para o mapeamento do processo de construção do romance. Além da obra principal, quatro objetos surgiram a partir dessa experiência: uma coletânea de crônicas escrita pelos leitores que acompanharam a produção do romance online, As crônicas dos Anjos de Prata (2000), um livro de depoimentos das pessoas que participaram desse processo de escrita, um novo livro do autor Mario Prata, Minhas Tudo (2001), e um site de crônicas coordenado por alguns fãs do romance Os Anjos de Badaró. Com base nos vestígios deixados, espera-se compreender de que maneira uma obra escrita em contexto digital (res)significa agentes amplamente estudados pela teoria literária e nos impele a refletir sobre novos olhares frente à literatura em tempo presente.