A fanfiction A Lenda de Fausto, de Samila Lages, foi transformada em romance pela Editora Multifoco em 2011. A partir das considerações de Henry Jenkins, Anne Jamison, Néstor Canclini, Régis Debray, Giselle Beiguelman e outros teóricos, buscou-se discutir a mobilidade da obra de Samila, entre quatro plataformas: o Nyah!, o zine, o blog da produtora e o livro físico. Intentou-se compreender os trajetos que precederam a publicação, perpassando processos de criação, produção, reprodução, circulação, recepção, difusão e editoração d’A Lenda de Fausto. Em tal percurso, percebeu-se que a fanfiction possui (im)possibilidades estéticas específicas do meio digital, uma vez que explora algumas potencialidades/limitações impostas pela interface do Nyah! e se desdobra em spin-offs, pois além d’A Lenda de Fausto, há a pré-sequência Relatos da Queda e a sequência O Trilo do Diabo. Pretendeu-se observar poética(s) da construção desse objeto e como Samila se apropria de diferentes estratégias a fim de estabelecer-se enquanto produtora (re)conhecida dentro e fora do microcosmo otaku. Os objetivos do trabalho se concentraram em investigar se o(s) fandom(s), comunidade(s) virtual(is) organizada(s) na ressignificação do conteúdo das franquias e da indústria cultural, com regras reunida(s) em torno de uma recepção não-passiva, em um modelo de consumo produtivo, constituem-se como sistema de cultura. Para debater essas dinâmicas, utilizou-se a teoria dos polissistemas, de Even-Zohar (2017). Desenhou-se como segundo objetivo propor que A Lenda de Fausto, em sua materialidade disposta no Nyah!, estabelece-se como literatura digital, apesar de não ser uma premissa comum ao gênero fanfiction, e como a prática empreendida na plataforma foi descontinuada e até mesmo apagada do contexto exordial na transição para mídiuns ulteriores. O terceiro objetivo foi notar como os fatores literários do fandom agregaram Samila ao polissistema literário por meio da transição ao mercado editorial impresso, o que gerou uma metamorfose de status – de produtora de fics a autora –. Por fim, buscou-se entender como se dá essa dupla existência de Samila/Ryoko, em ambientes com funcionamentos distintos. A tese defendida foi de que A Lenda de Fausto evidencia a intersecção de diferentes polissistemas por meio da mudança da materialidade: enquanto fic, uma série de fatores levou à legitimação no fandom. Enquanto romance publicado em livro, passou a ter outras formas de circulação e públicos mais amplos, gerando uma dupla camada de consagração: na comunidade fã e na literatura amapaense.